A Ameaça do Patrão dos Patrões
M Bento, 30.09.09
Francisco Van Zeller, patrão dos patrões portugueses, veio ontem e terreiro pressionar o PS para que se alie com a direita e esqueça os partidos da esquerda parlamentar. Ele foi bem claro ao afirmar que os empresários e industriais não tolerariam que o Governo negoceie ou com o PCP ou com o BE. Aliás, tal qual menino mimado, avisou logo com a sua birrinha: se o PS acordar políticas económicas com a esquerda os empresários não investem em Portugal. Lindo! Magnifico! Chantagem pura e dura. Este senhor faz lembrar aquelas criancinhas que quando jogam à bola, e a bola é sua, só aceitam que as suas regras prevaleçam. Se os outros não gostarem, viram as costas e vão se embora com a bola debaixo do braço. Eles não jogam mas, caramba, os outros também não!
Estas apreciações deliciosas de Van Zeller merecem-me três comentários fundamentais:
- Em democracia e desde que se aceite as regras do jogo, todos são iguais, sejam eles de esquerda ou de direita. Não há uns mais iguais que outros;
- Os senhores empresários não detêm, nem de perto nem de longe, o exclusivo da definição das regras do jogo económico, muito menos das soluções para a crise económica actual;
- Van Zeller deve lembrar-se sempre que se hoje estamos perante uma crise económica de dimensões épicas, o devemos a empresários como ele, que perfilhavam igualmente a ideia de que o mercado deve funcionar a belo prazer dos agentes económicos com mais poder;
Em resumo, o que este ele gostava era de ver regressar aqueles belos tempos em que os senhores patrões dispunham dos seus empregados a seu belo prazer e de acordo com as suas regras e necessidades (por mais loucas que estas fossem). Ele esquece-se que o tempo não pára e que, talvez, a maior conquista da humanidade tenha sido o desenvolvimento do conceito de Ser Humano e humanidade, com uma dignidade impar e inquestionável.