Temos Ou Não Direito A Uma Verdadeira Alternativa?
Alguém me explica porque é que mais de metade dos deputados do nosso parlamento têm de se sujeitar à vontade de menos de quarenta por cento dos seus pares?
Pretende-se que seja passado um cheque em branco a essa minoria de deputados, mesmo quando toda a maioria dos restantes estiver frontalmente contra as iniciativas parlamentares apresentadas por eles ou pelo governo que eles suportem? No limite, o que se pretende é que menos de quarenta por cento dos portugueses imponham as suas decisões aos restantes. Na prática o que se pretende é o tal cheque em branco a uma minoria para que esta possa livremente governar uma maioria.
Quais os elementos para sustentar esta posição? Não podemos deixar de pensar que a esmagadora maioria dos comentadores que falam nas televisões, nas rádios e escrevem nos jornais são gente claramente identificada com a ala mais conservadora da nossa sociedade. Até aqui estamos perante o pensamento único que Pacheco Pereira não se tem cansado de denunciar. É quase anedótico pensar que, para eles, os comunistas ainda comem criancinhas ao pequeno-almoço. Para eles os votos de vinte por cento da população portuguesa não contam, não valem.
O primeiro argumento que apresentam é que a esquerda não se apresentou em coligação antes das eleições. Que memória curta! Em 2011 PSD e CDS concorreram sozinhos às eleições. Isso, e muito bem, não os impediu que depois entrassem em negociações para formar um governo de coligação. É normal em democracia. O que é normal, desejável e saudável em democracia não são as maiorias absolutas de um único partido. Pelo contrário, é saudável que os partidos se entendam, que construam plataformas entre eles e que, a partir daí, construam uma base programática para governar.
Em 2011 ninguém estranhou, ninguém reclamou, ninguém achou pouco democrático ou pouco legítimo que dois partidos diferentes e que até se atacaram entre si na campanha eleitoral, se unissem para formar governo. No entanto, quatro anos passados já não é normal. Aliás, o que já não é normal é que isso possa acontecer com partidos à esquerda. Se o PSD e PS agora, depois das eleições, mesmo sem terem dito antes que se poderiam aliar, se juntassem e formassem governo toda esta gente batia palmas. Perdão, toda gente não. Mas de Belém viriam palmas imensas e dos velhos do Restelo, empossados comentadores na nossa imprensa formatada, viriam largos elogios. Ninguém viria então a público alertar para o facto de eles na campanha eleitoral não terem dito que se iam aliar. No entanto agora os mesmos comentadores e as mesmas vozes, vêm dizer-nos que o entendimento à esquerda não é legítimo. Alguém entende estas alminhas? Eu não.
Parece terem caído no esquecimento duas coisas: a primeira é o facto de a líder do Bloco de Esquerda ter, dias antes das eleições, dito que estaria disponível para se aliar, sob algumas condições, ao Partido Socialista após o acto eleitoral. Já ninguém se lembra. Não interessa lembrar.
A segunda é o resultado de um dos vários estudos de opinião que foram feitos durante a campanha eleitoral. Nesse estudo a maioria dos inquiridos indicava que, em caso de nenhum partido ter maioria absoluta, preferiria uma aliança à esquerda. Já ninguém se lembra. Não interessa lembrar.
Portanto vamos ao que interessa. PSD e CDS representam neste momento menos de 40% dos portugueses. O PS, PCP e Bloco Esquerda representam mais de 50%. Qual é, democraticamente falando, o drama destes três últimos se entenderem, organizarem e definirem uma plataforma para um governo de quatro anos? Aliás, toda a gente bem-falante e bem pensante criticou durante anos o Partido Comunista e mais tarde o Bloco de Esquerda, por apenas serem partidos de protesto e não aceitarem nunca serem forma de governo. Pois bem, agora eles aí estão prontos para isso. As vozes que sempre os criticaram por nunca se chegarem à frente para serem poder que se calem agora de uma vez por todas.
Ao fim de mais de 40 anos de democracia temos um país que não se desenvolveu tanto quanto deveria, que economicamente é débil e cuja estrutura produtiva do sector primário e secundário é quase nula e os responsáveis por isso têm rosto. São aqueles que nos governaram durante todos estes anos. São todos eles, desde aquele que agora está em Belém e fala como se não tivesse culpa nenhuma, até a outros políticos do PSD, CDS e PS. Caramba, não era agora a hora daqueles que nunca tiveram quer o poder, quer a responsabilidade pelo estado a que este país chegou, de pelo menos uma vez mostrarem o que valem?